Guia de sustentabilidade portuária observa novas demandas globais e foi lançada no dia 28 de março, em contexto de maior atenção ao ESG
O Brasil é o primeiro país do mundo que terá um guia de sustentabilidade portuária. Trata-se de um resultado de pesquisa inédita realizada pelo Grupo de Pesquisa LabPortos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) e a Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias (ABEPH).
O guia tem apoio institucional da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), onde foi lançado no último dia 28, em Brasília.
Guia de sustentabilidade portuária
Com o título Guia de Melhores Práticas de Sustentabilidade Portuária: A Estratégia ESG, a pesquisa destaca 42 melhores práticas ambientais, 43 sociais e 13 de governança nos portos privados e públicos do país. Além disso, revela a tipologia das melhores práticas de sustentabilidade no setor portuário, denominada de os 6 P’s da sustentabilidade. Elas foram classificadas como políticas, programas, processos, planos, projetos e parcerias. Autoridades do setor marcaram presença no evento de lançamento.
Publicação inédita
Contudo, conforme a organização do guia, a publicação é inédita no mundo e acontece em meio ao IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), que acaba de divulgar um novo relatório alertando para o fato de que, se manter o aquecimento global na taxa de 1,5°C, será preciso reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa pela metade até 2030, 48%, e até 99% até 2050.
Bolsas de valores
Já em relação às bolsas de valores do mundo e os órgãos reguladores do setor de infraestrutura e logística estão criando normas e resoluções de confura sustentáveis. Elas focam em gestão de riscos, resiliência e enfrentamento às mudanças climáticas, além de buscar padronização dos modelos de divulgação dos relatos de sustentabilidade.
Melhores práticas
Por outro lado, entre as melhores práticas ambientais, o guia identificou, por exemplo, implantação de política de compras sustentáveis e políticas de enfretamento às mudanças climáticas e de descarbonização, adoção dos ODS no planejamento estratégico, ampliação do uso de fontes alternativas de energia e de captação de água, para reduzir a captação no sistema público. Também se constatou a prática de coleta e tratamento de resíduos plásticos retirados de praias, manguezais e outras áreas sensíveis e incentivo ao recebimento de navios mais eficientes ambientalmente.
Sociedade
Já no social, a pesquisa comprovou o aumento da preocupação dos portos com as interações com a sociedade. Alguns exemplos das melhores práticas sociais são implantação de projetos de desenvolvimento socioeconômico para povos originários e comunidades tradicionais de pescadores, caiçaras, quilombolas, ribeirinhos e de terreiro.
Além disso, identificou pagamento de auxílio financeiro a alunos matriculados em escolas, fomento de novos negócios, geração de emprego e renda, promoção e preservação da história local e regional, bem como implantação de espaço comunitário em locais com alto índice de uso de drogas e violência.
Na área de governança, o guia incluiu, entre as melhores práticas, ações anticorrupção, com adoção de padrões de conduta e acompanhamento de qualquer tipo de contribuição a entidades públicas e privadas. Também observou-se a melhoria contínua de gestão integrada, atendendo à legislação, além de ações que garantam maior transparência de ações, programas de gestão de riscos, melhoria dos canais de comunicação com a população e programas de compliance.
Stakeholders e temas materiais
Há 99 grupos de partes interessadas identificados no grupo, os chamados stakeholders. Eles afetam as ações do setor ou são afetados por elas. E também foram mapeados 182 temas materiais, sejam eles de impactos mais significativos da organização na economia, no meio ambiente e nas pessoas, e ainda de impactos em seus direitos humanos.
Segundo o diretor-presidente da ATP, representante dos portos privados, Murillo Barbosa, o guia “reforça o compromisso da entidade e de seus associados no desenvolvimento de novos padrões de qualidade e desempenho, visando garantir a evolução portuária de maneira sustentável”.
Desenvolvimento
Já o presidente da ABEPH, Luiz Fernando Garcia da Silva, afirmou que os portos públicos brasileiros possuem um compromisso com o desenvolvimento socioeconômico e o aumento da qualidade de vida da população.
“A busca do equilíbrio entre a atividade portuária e os pilares da sustentabilidade seguirá nos desafiando, e a união do setor será determinante para discutir problemas comuns e encontrar soluções conjuntas.”
Inovação
Por fim, o coordenador técnico e organizador do guia, o doutor em engenharia naval e oceânica Sérgio Cutrim, professor da UFMA e coordenador do LabPortos, ressalta que a visão moderna de sustentabilidade está atrelada à inovação.
“Em outro momento, a sustentabilidade era vista como um centro de custo, hoje isso não é mais verdade, ela deve fazer parte da estratégia da organização, ela pode, inclusive, alavancar novos negócios, ao mesmo tempo em que contribui ambiental e socialmente.”
Acesso ao guia
O guia é disponibilizado também de forma digital, gratuitamente, neste link Guia de Melhores Práticas de Sustentabilidade Portuária: A Estratégia ESG.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Egor Kunovsky)