Choque do petróleo chega em má hora

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Na semana passada, com o anúncio de um aumento recorde no preço do petróleo, logo após o episódio do ataque de drones a uma instalação petroleira da Arábia Saudita, não poderia ter acontecido em má hora para a economia global, que já enfrentava uma profunda desaceleração do produto.

Situação atual do petróleo

Mesmo que o impacto dependa do tempo que irá durar esta alta das cotações, o que aconteceu pode agravar ainda mais a confiança de companhias e consumidores, que já vem sido enfraquecida desde a disputa comercial entre EUA e China, além da desaceleração da demanda global. Além disso, o setor de exportação também está abalado, que é o caso também dos chineses e alemães.

Sobre isso, Rob Subbaraman, chefe de pesquisa macro global da Nomura Holdings, em Cingapura, disse:

“Um choque negativo de oferta como este, quando o crescimento global está em desaceleração sincronizada, com muitos pontos geopolíticos fervendo, é exatamente o que não precisamos”.

Má hora para o choque do petróleo

O choque do petróleo chega em um momento em meio a vários alertas em relação à economia global. Informações publicadas na semana passada mostraram que a China teve o pior desempenho mensal da produção industrial desde 2002.

Além disso, em junho deste ano, o Fundo Monetário já tinha diminuído sua projeção de crescimento global para 3,2%; uma taxa de expansão de 3,3% ou menor ainda seria a mais fraca desde 2009.

Valor varia

No entanto, o impacto do petróleo mais caro deve variar em todo o mundo.

Países com economia emergentes com déficits em conta corrente e fiscais, como África do Sul e Índia, correm o risco de sofrer grandes perdas de capital e ainda da desvalorização das moedas.

Já os mercados de exportação poderiam ter uma alta de suas receitas corporativas e dos governos, ao passo que os países consumidores arcariam com as despesas nos postos de gasolina. Com isso, há uma aceleração da inflação e, consequentemente, esfria a demanda.

A China é o maior importador mundial de petróleo e no momento está vulnerável à valorização das cotações. Este também é o caso de alguns países europeus, que dependem de energia importada.

No entanto, a inflação não é uma preocupação imediata na economia global. O maior receio agora é o efeito do que um choque de valores no petróleo seria capaz de impactar sobre a demanda global, que já está frágil. Sobre isso, Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia da Oxford Economics, em Hong Kong, completa:

“Mas a escassez de produção e aumento de preços vão sufocar o poder de compra e, assim, pesar nos gastos em um momento precário para a economia global”.

Dovish

Em 2017, foi realizado um estudo do FMI, que revelou um choque de desvio-padrão por um ano na oferta de petróleo, o que reduziria o PIB global em aproximadamente 0,1% pelo período de dois anos.

Agora, com as notícias ocorridas na Arábia Saudita só crescem a chance de um apoio adicional da política monetária de bancos centrais, o que anteciparia os altos gastos de energia. E isso tudo reflete no bolso do consumidor, afirma David Mann, economista-chefe do Standard Chartered em Cingapura, em entrevista à Bloomberg Television.

O presidente dos EUA, Donald Trump, aproveitou o momento para atacar novamente o Fed e solicitar um corte maior dos juros. E chegou a tuitar:

“Os Estados Unidos, por causa do Federal Reserve, estão pagando uma taxa de juros MUITO mais alta do que outros países concorrentes”.

Autoridades de política monetária

Com isso, autoridades de política monetária poderiam reagir da seguinte forma: Benjamin Diokno, presidente do banco central das Filipinas, contou que o choque nos valores de petróleo será inserido nos debates da reunião para definir as taxas de juros nesta semana. Já a maioria dos economistas consultados antes do ataque na Arábia Saudita previa um corte na tarifa de 25 pontos-base.

Fonte: revista EXAME

*Foto: Divulgação

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